quinta-feira, 20 de março de 2008

SAÚDE E DOENÇA

Reflexões a partir da Bíblia e da tradição

São Leopoldo, 06/0l/007 - Horst Kuchenbecker

INTRODUÇÃO

· O que a saúde tem a ver com a teologia?

· Não são dois campos bem distintos, nos quais os médicos cuidam do corpo e os pastores da alma?

· Será que a Bíblia tem algo a dizer sobre saúde e doença?

· Qual a responsabilidade de cada cristão, em relação a um irmão/irmã na fé doente, e mesmo as pessoas doentes em geral?

· Quando alguém está doente, o que fazemos em primeiro lugar, chamamos o médico ou nos dirigimos em primeiro lugar, a Deus em oração?

Por vivermos num país relativamente rico, sem revoluções e guerras, sem grandes catástrofes em relativa tranqüilidade - apesar dos muitos problemas que não ignoramos - saúde e bem estar tornaram-se o ídolo de nossos dias, a grande preocupação das pessoas.

As pessoas relegaram Deus a um segundo plano para não dizer que descartaram Deus de suas vidas, e não se apercebem que viver sem Deus é terrivelmente estressante. Ora o stress é um dos maiores inimigos da saúde. Numa vida sem Deus sobrecarregamos nossa alma e isto se reflete sobre o corpo. Pois as perguntas de onde vim e para onde vou, quem sou e para que vivo, sobre Deus e pecado, culpa e eternidade, não encontram resposta na razão humana, nem na psicologia; e a capacidade da alma para sufocar estas perguntas tem seus limites. Estas perguntas encontram resposta somente na Palavra de Deus, pela qual Deus nos chama à Cristo, no qual encontramos a razão de nossa vida, no qual encontramos perdão, vida e eterna salvação. Jesus disse: “Eu sou a ressurreição e a vida eterna”. (Jo 11.25) Daí a razão de nosso tema: Embasamento teológico para a saúde.

1 - SAÚDE E DOENÇA

- O que é saúde? O que é doença?

Jesus disse: Os sãos não precisam de medico e sim os doentes. (Lucas 5.31)

Quem de nós, por mais saúde que tenha, ousaria dizer a Jesus: Eu não preciso de médico?

O que é então doença?

· Do ponto de vista de um médico, a doença é um mal-estar do corpo. Conforme os médicos há uma causa natural que o médico procura diagnosticar. Será somente isso? .

· A verdadeira causa da doença, a razão humana não consegue diagnosticar, essa somente a Bíblia revela. Nela Deus afirma que a verdadeira causa da doença é o pecado. Não houvesse pecado, não haveria doença, nem morte. Pois, a morte não é algo natural. Ela é uma intrometida.

A Bíblia afirma: O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor. (Rm 6.23) A morte por sua vez tem seus diversos mensageiros que anunciam sua chegada. Por isso Deus disse a Adão e Eva após a queda, ao expulsá-los do paraíso: “Maldita é a terra por tua causa; em fadiga obterás dela o sustento durante os dias da tua vida. Ela produzirá cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque és pó e ao pó tornarás”. (Gênesis 3.16-17) Assim, a verdadeira causa da doença é o pecado. A doença é um castigo de Deus. As doenças são os sintomas externos do castigo divino que paira sobre a humanidade. O profeta Isaías disse ao povo de Israel: “As vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus: e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça”. (Isaías 59.2)

Então, em última análise é Deus que envia a doença?

Sim. Deus disse ao povo de Israel: “Se ouvires atenta a voz do Senhor teu Deus, e fizeres o que é reto diante dos seus olhos, e deres ouvidos aos seus mandamentos, e guardares todos os seus estatutos, nenhuma enfermidade virá sobre ti, das que enviei sobre os egípcios, pois eu sou o Senhor que te saro”. (Êxodo 17.26)

Jesus consola seus discípulos em meio aos muitos perigos e lhes diz: “Contudo não se perderá um fio de cabelo da vossa cabeça”. (Lucas 21.18)

Temos muitos exemplos na Bíblia que mostram que por causa do pecado de pessoas ou de uma nação inteira, Deus enviou castigos, quer sobre indivíduos ou sobre uma nação ou nações. Só para lembrar, o dilúvio, Sodoma e Gomorra, as pragas do Egito, a lepra sobre o moço do profeta Eliseu (2 Reis 5.27; Gênesis 38.10) No Novo Testamento Ananias e Safira que foram castigados porque mentiram ao apóstolo Pedro. (Atos 5). O mundo não é governado por duas forças: o bem e o mal (do-in), mas unicamente por Deus da vida e da morte, que abençoa e amaldiçoa, que diz: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele, crê não pereça, mas tenha a vida eterna ... o que não crê já está julgado”. (João 3.16-18).

A doença, portanto, é um sintoma externo da realidade do pecado, do castigo de Deus que paira sobre a humanidade pecadora. Portanto, todos nós necessitamos o médico Jesus. Esta verdade, no entanto, é ignorada em nossos dias. Pois, a saúde é o ídolo de nosso século, como bem atesta a frase: Quem tem saúde, tem tudo..., ou saúde que interessa o resto ....

2 - SAÚDE, O ÍDOLO DE NOSSO SÉCULO

- No passado quantas igrejas cristãs e Academia de Ginástica o bairro oferecia? E hoje o temos e vemos: as igrejas estão lá com relativa baixa freqüência nos cultos, mas em compensação temos o dobro de academias de Ginástica com grande movimentação de manhã, à tarde e à noite. Isto nos dá uma idéia da luta pela saúde e o bem-estar, do fitness.

Onde, no entanto, não se dá mais valor a Deus, as pessoas não se sentem mais responsáveis a Deus, só a si mesmas; e onde não se tem mais esperança na vida eterna, ali a busca pela saúde corporal dita a palavra final, não sem graves conseqüências para a saúde do corpo. Pois a desesperada luta pela saúde, num mundo onde impera a morte - pois em meio à vida estamos na morte, vivemos ao lado da sepultura - é correr atrás do vento, de uma utopia. Ali se requer cada vez mais qualidade de vida e para que? Para gastá-la em futilidades.

Não que o buscar de uma boa qualidade de vida estivesse errado, mas a busca desesperada e egoísta leva a todo o tipo de desmandos contra o próximo. Os resultados estão aí. Os processos contra médicos, hospitais e planos de saúde não têm fim. Como se o médico tivessem o poder e dever de dar vida e saúde ilimitada às pessoas. Por outro, na falta do temor de Deus, com a decadência do cristianismo no Ocidente, volta a brotar o velho inço pagão; o aborto, a eutanásia, etc.

Quando, por exemplo,

· Nascia uma criança na antiga Grécia, a criança era apresentada ao pai, se esse gostasse dela, ela poderia viver se não; era jogada aos animais silvestre.

· Pessoas aleijadas, inúteis e idosas eram eliminadas pelos próprios familiares.

· Quando o marido morria, a esposa era enterrada viva com ele, pois não cuidou bem dele.

Isto ainda era praxe na Índia até pouco tempo atrás, nos anos 40. Tudo isso foi mudado pelo cristianismo, que valorizou a vida como um dom de Deus. Jesus explicou isso na parábola do grão de mostarda que cresceu, tomou-se árvore, no qual passarinhos de toda a espécie encontraram abrigo (Mateus 13.31,32) Este "encontrar abrigo" é exatamente a dignidade do ser humano que a religião cristã trouxe: amparo às crianças; dignidade da mulher; amparo aos doentes e idosos. Surgiram orfanatos, hospitais, lares para indigentes e idosos, todos inicialmente, mantidos por igrejas cristãs: Agora, o quadro está mudando.

Onde Deus é ignorado se propaga a utopia de que é possível alcançar uma vida sem sofrimento. E se isto não for possível, querem terminar com a vida. Ali a saúde toma o lugar da alma, e com isso, a mensagem da salvação que a Igreja Cristã é colocada de lado, como no tempo do profeta Elias. Naquele tempo, os judeus adoravam o ídolo Baal o deus da fertilidade. Deus lhes mostrou, pela seca de três anos, que Baal não é o deus da fertilidade. No tempo da decadência do império romano, o culto ao corpo e, consequentemente, a busca por prazeres corporais correu o império e o levou à ruína. Como a corrupção hoje não é só de uma ou outra nação, mas geral, Deus disse que os tempos finais do mundo serão difíceis (Marcos 13.8). Haverá terremotos em vários lugares e também fomes. Estas coisas são o princípio das dores." (Marcos 13.8) Más em tudo isso, Deus tem um propósito. Ele usa doenças e aflições como remédio, como aio para Cristo. Feliz aquele que acorda para darem atenção à palavra de Deus.

3 - DOENÇA, COMO REMÉDIO

Se Deus manda a doença, qual a finalidade de todo o sofrimento?

Aqui precisamos destacar duas coisas.

Primeiro, o pecado é a causa da doença e das catástrofes, é a ira de Deus sobre o pecado. Infelizmente houve-se pouco sobre isso dos púlpitos, nas pregações das igrejas.

Por outro, temos que lembrar os muitos males que as próprias pessoas trazem sobre si por culpa própria. Por exemplo, pelo mau uso do corpo, quando movidos pela ganância, trabalham em exagero; quando na busca por prazeres, desgastam seu corpo. Quando abusam de alimentos ou caem em vícios; quando por abuso da velocidade, acidentam e provocam acidentes. São males provocados que trazem múltiplos sofrimentos, muitas vezes para o resto da vida. Outras vezes, sofremos por causa do pecado de outros, por causa da imprudência de outros. Por exemplo, por causa da canseira, um motorista cochila no volante e fere pessoas; ou um motorista embriagado mata e fere pessoas. Incluímos aqui as guerras e desastres? a queda de um avião por falha mecânica ou humana. Diante de tudo isso surge a pergunta: Por que meu Deus?

Em tudo isso Deus tem um propósito:

· Para a pessoa que os sofre em vida, tudo isso deve servir como um aio para Cristo, isto é, visa levar pessoas ao reconhecimento de seus pecados, da necessidade que elas têm do médico, que é Jesus;

· para que dêem ouvidos ao evangelho, à mensagem do perdão de Cristo e voltem, pela fé na graça de Cristo, à comunhão com seus.

· Quando Deus permite que sofrimentos de toda a ordem atinjam os filhos de Deus, isto tem o propósito de firmá-los na fé, de exercitar e prová-los na fé.

Quando o apóstolo Paulo suplicou por três vezes a Deus para que o livrasse de sua enfermidade, Deus lhe respondeu: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Coríntios 12.9). O apóstolo aceitou a palavra de Deus e escreveu com humildade o seguinte: “E para que eu não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações. foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte” (2 Coríntios 12.7). Por isso ele que sofreu tanto em suas viagens missionárias, afirma com toda a convicção: Sabemos que todas às coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. (Romanos 8.26) E o apóstolo Pedro lembra os fiéis: “Por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus”. (Atos 1-1.22)

Ilustração: Uma senhora adoeceu.

A senhora ficou dois anos de cama. Ela e seu marido o suportaram com muita paciência e resignação. Ela disse que seu maior desejo era ver seus três vizinhos abraçarem a fé cristã. Estes vizinhos a visitavam com freqüência. Eram cordiais, mas não abraçaram a fé cristã. A senhora veio a falecer. Após o falecimento, seu esposo, agora viúvo, convidou o pastor e para surpresa, ali estavam às três famílias vizinhas. Elas disseram: “queremos passar para a igreja”. Reconhecemos na paciência da falecida, que isso foi possível só pelo poder de Deus. Queremos conhecer este Deus. Essas três famílias não só passaram para a igreja, após a instrução, mas tomaram-se instrumentos valiosos na missão de Deus. Para trazê-las a Cristo, Deus usou a doença dessa senhora.

As reações diante da doença, como ação de Deus, são diversas. Assim como muitos rejeitam a Palavra de Deus, muitos se revoltam também diante da doença. Por exemplo, a mulher de Jó, antes de abandoná-lo, devido às desgraças que se abateram sobre eles, lhe disse: “Amaldiçoa a Deus e morrer” (Jó 2.9). Ao que Jó respondeu como muitos cristãos respondem ainda hoje: “Temos recebido o bem de Deus, e não receberíamos também o mal”. (Jó 2.10)

4 - JESUS, O MÉDICO

Vimos, portanto, que pecado, doença e morte estão intimamente ligados e são compreendidos somente à luz da Palavra de Deus. Importa por isso olhar para Jesus. O profeta Isaias escreveu: “Certamente ele tomou sobre si as nossas, enfermidades... Homem de dores e que sabe o que é padecer... Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua a alma” (Isaías 53.4,3,11) Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. (v.5) Este versículo é o verdadeiro centro de todas as profecias do Antigo Testamento, desde Gênesis 3,15 até Malaquias 4.2. De formula clara como em nenhum outro lugar; o profeta fala do castigo sobre o pecado e do amor de Deus em Cristo. O castigo, o verdadeiro, inteiro, completo, total castigo que nós merecemos aqui e na eternidade estava sobre ele, Jesus. Assim o confessamos e dizemos na confissão de pecados: “Onipotente e misericordioso Pai, eu pobre e miserável pecador, te confesso todos os meus pecados e iniqüidades com que provoquei a tua ira, merecendo mui justamente o teu castigo temporal e eterno”. Compreendemos ainda o significado dessas palavras? Isso significa que se Deus tomasse todos os sofrimentos e dores, digamos de um hospital e as colocasse sobre nós, em todos os dias de nossa vida e ainda nos lançasse nos horrores do inferno para toda a eternidade, nós não teríamos direito de reclamar, mas confessar: Deus é justo. Eu o mereci. E então ouvimos que Jesus tomou todo o sofrimento e todas nossas dores sobre si e as suportou. Humilhado, escarnecido, esmurrado, açoitado e pregado na cruz em teu e meu lugar, em favor de toda a humanidade. Sua humilhação e sofrimentos foram tão grandes que as pessoas "escondiam o rosto dele" (v. 3), isto é, ninguém suportava olhar para ele, de tão chocante. Aqui está o centro de toda a consolação para o pecador, o perdão e a esperança em todo o sofrer. Fora do sofrimento, da cruz de Cristo, sua vitoriosa ressurreição não há verdadeira compreensão da doença e do sofrimento, nem forças para suportá-los. Sem a esperança na vitoriosa ressurreição de Cristo, que disse: “Eu vivo e vos vivereis”, (Jo 14. 19) dando-nos a esperança da ressurreição, do novo céu e da nova terra, (Apocalipse 21.4) a vida é uma desgraça, mesmo nos seus momentos mais vigorosos e alegres.

A partir disso vamos compreender melhor a ação de Jesus em relação aos doentes. Ele não visava simplesmente a cura da enfermidade, mas sempre, com o fim último, a verdadeira cura, a saúde e a alma. Neste sentido a doença não é um destino imutável, mas um caminho para a vida, como vimos, um aio para Cristo. Confiar na graça de Cristo é a única solução na tensão entre vida e morte. Incrédulos dizem: “Isto não é consolo. Eu quero vida plena aqui e agora”. Mas Cristo responde: “quem quiser preservar a sua vida. perdê-la-á; e quem a perder, de fato a salvará”. (Lucas 17. 33).

Quando os amigos do paralítico ouviram a respeito de Jesus, resolveram levar seu amigo a Jesus para ser curado. No caminho, eles lhe contaram que Jesus era o Messias prometido, o Filho de Deus, o Salvador do mundo, que já deu prova disso, tendo curado aleijados, cegos e leprosos. Após vencerem as dificuldades para colocarem seu amigo diante de Jesus, subindo ao eirado da casa, removendo as tábuas, o baixaram por cordas. O paralítico se viu de repente diante de Jesus, o Filho de Deus. O que será que lhe passou nesta hora na alma? Que pensamentos, que ansiedades, que súplicas, que esperanças? O evangelista Lucas não o revela. Mas Jesus, que conhece os corações, lhe disse: Tem bom ânimo, filho; estão perdoados os teus pecados. (Mateus 9. 1 -8) Estas palavras nos revelam o que se passou na mente do paralítico ao ver-se diante da presença do Filho de Deus. Ele, judeu educado na Lei de Moisés, estremeceu. Lembrou-se de sua indignidade. Ai de mim! Sou pecador. Sua consciência entrou em ação. A essa altura, sua doença, sua paralisia passou para um segundo plano e a saúde de sua alma ocupou o primeiro lugar. Por isso Jesus lhe disse: Tem bom ânimo, filho; estão perdoados os teus pecados. Isto lhe restituiu a verdadeira saúde. E para tornar o perdão visível e mostrar que Jesus tinha esse poder, Jesus disse ao paralítico: Levanta-te, toma leu leito e vai para tua casa.

Na cura dos dez leprosos, Jesus agiu diferente, mas com a mesma finalidade; curar alma e corpo. Os leprosos ouvindo que Jesus estava na região, o procuraram. Quando o encontraram, gritaram de longe: Jesus, Mestre, compadece-te de nós. (Lucas 17.11-19) Jesus lhes dá uma ordem: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes! Eles creram e foram mesmo não sentindo nem vendo nada da cura. Aconteceu que, indo eles, foram purificados. Um dos dez. vendo que fora curado, voltou, dando glórias a Deus em alta voz, e prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe. E Jesus lhe disse: levanta-te e vai; a tua fé te salvou. O objetivo de Jesus na cura dos dez leprosos era curá-los de corpo e de alma. Infelizmente só um foi de fato curado. Os outros, cegados pelo prazer da vida, deram as costas a Jesus. O que é muito comum até o dia de hoje. A gratidão não é o nosso lado forte, nem mesmo em nós Cristãos. Assim dos dez leprosos, só um foi verdadeiramente curado.

5 - O MÉDICO E A MEDICINA

Vimos que Jesus é o verdadeiro médico que cura corpo e alma. Mas precisamos lembrar ainda mais um detalhe. Pela fé em Cristo recebemos completo perdão dos pecados e somos libertados do poder da morte e de Satanás, que, não tem mais o direito de nos acusar. Pela fé, gerado pelo batismo e mantido por palavra e a Santa Ceia, somos enxertados na videira, que é Cristo, e recebemos vida nova, mas temos esta vida ainda em vasos de barro (Rm 9.23; 2 Co 4.7), em nossa natureza carnal (Rm 7.18), que não muda e está sujeita ás enfermidades e à morte. Somos simultânea e totalmente pecadores e santos. De modo que estamos em diária luta contra as inclinações de nossa carne (Gl 15.24), às tentações do mundo e de Satanás, e temos que passar pela morte temporal. Mas em tudo isso somos profundamente amparados e consolados com a graça de Cristo. Estamos no mundo, mas não somos dele (João 17.16) E enquanto no mundo, estamos sujeitos a todas as peripécias, perigos, ferimentos e doenças, precisamos e podemos valer-nos também de médicos da medicina; para aliviar os sofrimentos.

Mesmo que o médico só trabalhe com os sintomas externos ao diagnosticar a enfermidade do corpo e não chega a sua verdadeira causa real, que é o pecado, mesmo que ele possa combater pela intervenção cirúrgica e o remédio certas doenças, não pode estancar a verdadeira doença progressiva que leva à morte. Ele não consegue a cura real.

Nisto consiste sua limitação, pois saúde e vida são dons de Deus. Por isso Jesus afirma: Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso de sua vida? (Lc 12.25) Ouvimos médicos saírem da sala de cirurgia cumprimentando um ao outro, dizendo: "Vencemos. A operação um foi sucesso," para pouco tempo depois serem surpreendidos com a notícia do falecimento do paciente. Em outra ocasião, perguntamos a um médico após a operação: E então? E o médico respondeu: Lamento informar, o câncer já tomou conta. Abrimos e fechamos. A pessoa terá talvez dois ou três meses de vida no máximo. Mas para a surpresa de todos, a pessoa viveu ainda cinco anos, bem vividos.

Mesmo assim, cumpre-nos valorizar e considerar a medicina um dom especial de Deus para minorar os sofrimentos. Assim profetas, apóstolos e verdadeiros cristãos de todos os tempos a valorizaram. Sto. Agostinho e Lutero valorizaram os médicos e a medicina. Eles são instrumentos e ajudantes nas mãos de Deus. Por meio deles, Deus ajuda às pessoas. Deus serve-se dos médicos para ajudar por meio de coisas criadas. Nisto Lutero se diferenciou de Karlstadt e outros teólogos do seu tempo, hoje alguns ramos pentecostais, que ensinam: "Quem vai ao médico e usa medicamentos revela que não tem fé no poder de Deus e se intromete na ação de Deus." Lutero contra argumentou, dizendo: Quando você tem fome, você não vai comer? Quem despreza a medicina, afirmou Lutero, despreza os dons do Criador. A medicina é um presente de Deus, quem a despreza, despreza um precioso dom do Criador. Deus deu a razão aos homens para isso.

Mas cura, no verdadeiro sentido da palavra, só pode ser pensada quando abrange a pessoa como um todo. Nesse sentido Lutero desenvolveu uma antropologia que revela seu conhecimento psicossomático. Neste sentido Lutero defende que, especialmente nas grandes pestilências de sua época, pastores e médicos têm a obrigação e o dever de prestarem auxílio, amparo medicinal e conforte espiritual aos enfermos. Para Lutero não existe um dualismo como medicina de um lado e assistência espiritual do outro. Pelo contrário, ambos pertencem juntos. Lutero mostrou isto à base de Isaías. O rei de Judá Ezequias adoeceu. Deus mandou dizer-lhe, pelo profeta Isaías: Poe em ordem a tua casa, porque morrerás, e não viverás (2 Reis 20.1) O rei Ezequías clamou a Deus por misericórdia. Deus ouviu suas orações e mandou o profeta de volta para lhe dizer: Ouvi a tua oração, e vi as tuas lágrimas, eis que eu te curarei; ao terceiro dia subirás à casa do Senhor. (v.5) E acrescentou: Tome-se uma pasta de figos, e ponha-se como emplasto sobre a úlcera: e ele recuperará a Saúde. (Isaías 38.21) O medicamento age sob a ordem e o poder da Palavra de Deus. Assim os fiéis em Cristo agem ainda hoje.

Lutero dá ainda mais um passo importante quanto ao uso da medicina sob oração. Ele fala da Santa Ceia e afirma: na Santa Ceia Deus une a Palavra de Deus a um elemento material para nos dar sua graça. Deus nos salvou pelos méritos de Cristo que nos são aplicados pela Palavra de Deus e os sacramentos. Assim no dia-a-dia Deus age também na cura de nossos males físicos, usando remédios os quais abençoa. Neste sentido, diz Lutero, Deus também é um farmacêutico.

6 - CONCLUSÃO

O apóstolo Paulo recomenda a seu discípulo Tito o seguinte: É indispensável que o bispo seja apegado à palavra fiel que é segundo a doutrina ... Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sadios na fé. (Tito 1.7,9,13) Temos aqui uma admoestação para a saúde teológica. A palavra saúde no grego "husainooein" tem a ver com higiene. Em todo esse assunto da saúde da alma e do corpo, requer-se sobre tudo fidelidade à Palavra de Deus, para que a sã doutrina seja mantida. A palavra de Deus, sua doutrina orienta a verdadeira antropologia.

· No primeiro Mandamento da lei, Deus nos diz: Eu sou o Senhor, teu Deus. Não terás outros deuses diante de mim. Que significa isto? Devemos temer e amar a Deus e confiar nele acima de todas as coisas.

· No primeiro Artigo do Credo Apostólico confessamos: Creio em Deus Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra, que me criou, conserva, supre, protege e guarda. E respondemos no final do Artigo: Por tudo isto devo dar-lhe graças e louvor, servi-lo e obedecer-lhe.

· No Segundo Artigo confessamos: Creio em Jesus Cristo. E respondemos no final do Artigo: Para que eu lhe pertença e viva submisso a ele, em seu reino e o sirva em eterna justiça, inocência e bem-aventurança.

· Na oração Geral dizemos: "Concede o teu Espírito Santo a todos os que participam da Santa Ceia... , fé confiante para o enriquecimento de suas vidas gastadas em amor a ti e ao semelhante. Amém.”

Vida e saúde são um dom de Deus que devemos administrar. Não como um fim em si mesmo, mas para glorificar a Deus, no servir ao próximo, não receando sacrifícios, até que Deus, pela graça de Cristo, nos chama ao lar celestial, a um mais cedo outro mais tarde.

Nossa razão de vida é servir a Deus no próximo, cada qual nas responsabilidades que Deus lhe conferiu. Neste sentido, por exemplo, a mãe se desgasta no gerar e criar seus filhos, soldados se sacrificam por sua pátria, profissionais em seu servir, etc.

Que Deus nos conceda esta verdadeira compreensão da mordomia cristã "de gastar nossa vida em amor ao próximo".

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